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Uma manhã de puro e duro BTT em Monte do Trigo

Seis e vinte da manhã, domingo, dia onze de Março, toca o despertador. Fico deitado mais oito minutos antes de ir para a cozinha tomar o pequeno almoço. Entre as torradas e o café, recebo uma mensagem no telemóvel, o meu companheiro de pedal não estava melhor da dor de garganta e não iria ao passeio.

Às sete e um quarto saí de Arraiolos em direcção a Monte do Trigo, onde cheguei por volta das oito e um quarto. Levantar o frontal, descarregar a bicicleta do tejadilho do carro, preparar as coisas com calma e dirigi-me para a partida, marcada para as nove da manhã.

Estava um belo dia de sol, quente e seco, um dia excelente para pedalar, com muito pó e piso algo duro. Partida à hora certa, posicionei-me mais ou menos a meio de pelotão e lá fui desfrutar das belas paisagens do Alentejo. Meti o meu ritmo, fui fazendo algumas ultrapassagens, até encontrar um grupinho para concluir o passeio. O piso estava duro e muito seco devido à chuva que não caiu, mas as belas paisagens e os odores da flora pelos diversos locais que iamos passando tornavam a passagem dos kms em momentos agradáveis de comunhão com a Natureza.

Tudo corria sobre rodas quando ao km trinta e um, depois da minha bicicleta ter completado oficialmente os quatro mil kms, sou surpreendido por uma paragem repentina dos pedais, no inicio de uma subida, ao que parece no ponto do percurso mais afastado de Monte do Trigo. Ao parar vi as roldanas do desviador partidas e consequentemente este também partiu.

Com uma mochila Camelback tão grande, alguma coisa devia de trazer para remediar a situação. Encosto a bicicleta, tiro a ferramenta e começo por abrir a corrente, depois saquei fora o desviadro moribundo e reajustei a corrente em single speed. Voltei a pedalar, mas a bicicleta continuava a meter mudanças e ao fim de um km fiquei sem conseguir pedalar devido à tensão da corrente. Comuniquei à orgnização a minha situação e o local onde me encontrava, km trinta e dois.

Com uma vista fantástica sobre Portel e enquato esperava pela carrinha de apoio, à sombra de um sobreiro, ao lado de uma pick-up, com música da Antena 3 e com o dono lá dentro que se prontificou a emprestar ferramenta, encostei a bicicleta e meti mãos à obra para tentar solucionar novamente o problema. Abri novamente a corrente sob tensão e voltei a reajustá-la, desta vez no quarto carreto.

Volto a seguir viagem. Mais dez kms percorridos e tudo a rolar às mil marvilhas, recebo uma chamada da organização a dizer que me estão quase a alcançar, ao que eu respondi todo orgulhoso e cheio de mim próprio, que tinha o problema resolvido. Mais adiante, novamente em subida e com o aumento da pressão nos pedais a corrente volta a ficar sob tensão. Olhei para a bicicleta e fez-se luz! "Tiro a roda fora e volto a colocar a corrente no quarto carreto", assim aliviava a tensão da corrente. Tentei mas não consegui, a tensão parecia demasiada e nesse momento fui alcançado pela carrinha de apoio. Lá fui de boleia com o orgulho ferido até ao reabastecimento seguinte a cerca de três km. Pelo caminho ainda resgatámos outro atleta, com um furo.

No reabastecimento, com a ajuda de um elemento da organização, lá conseguimos tirar a roda, aliviar a tensão da corrente e voltar a colocá-la no quarto carreto. Segui viagem mas com o orgulho ferido por ter andado na carrinha de assistência durante três kms. Fiz a subida ao alto de S. Pedro, voltei para baixo e para me penitenciar voltei a subir a parte final, pela segunda vez.

Após a segunda passagem no alto de S. Pedro, lá fui devagar, devagarinho até à meta em Monte do Trigo. Acabei quase ao fim de cinco horas, quatro a pedalar e uma a montar e afinar a minha nova single speed. Acabei com um desviador moribundo dentro da mochila Camelback, mais uns bocados de corrente, com uma bicicleta quase meio kg mais leve e um sorriso nos lábios!

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